O público

O público

O colectivo de artistas Ninho de Víboras apresenta o espectáculo “O Público” numa encenação de Karas para o texto de Federico García Lorca.

O Público

Devastado por uma paixão proibida, e falido, Enrique, director teatral, devota-se à montagem de uma versão radicalmente livre de Romeu e Julieta, no seu mais íntimo e secreto palco: o mundo dos sonhos. Mas até nesse território, a moral vigente é uma flora infestante, e convocará as devidas instituições para uma insurreição contra o Teatro e os seus degenerados entes.

Fruto de uma profunda investigação em torno de O Público, o Ninho de Víboras apresenta uma nova tradução para este texto maior da dramaturgia universal, a primeira realizada em português a partir do manuscrito sobrevivente. Tentaremos iluminar, sob outros ângulos, o “melhor poema” de Lorca. Comédia surrealista, tragédia autobiográfica, music-hall iconoclasta: O Público é, em suma, um gesto político, que reivindica o primado da poesia como ferramenta transformadora da realidade.

O teatro (im)possível

A década de 1920 fizera de García Lorca homem e artista. Em Madrid, sob a ditadura de Primo de Rivera, o poeta contactara com os maiores intelectuais do seu tempo, abraçando plenamente as novas aventuras da ciência e da arte, que galopavam no frenesim especulativo do pós-Grande Guerra. No verão de 1929, trintão esclarecido, sensação da literatura e da sociedade, viaja para Nova Iorque, como secretário do político Fernando De Los Ríos. O colapso de todo o sistema económico mundial desenrola-se, como uma peça de teatro, diante do seu espírito sensível e perspicaz. Sem hesitações, denunciaria esse sistema como “mascarón”, a grande máscara cujo peso acabaria por afundar povos e instituições, precipitando-os, na década seguinte, numa dança de ódio e morte.

As suas impressões dos anos 1929 e 1930 (já em Cuba) seriam sublimadas em duas obras que o próprio poeta sabia serem de charneira –para si e para a humanidade: Poeta em Nova Iorque (colecção de poemas) e O Público (“drama em vinte quadros e um assassinato”). Disse Lorca que O Público era “o seu melhor poema”, e a sua peça mais radicalmente honesta –tanto, que a tinha por irrepresentável. Tanto quanto se sabe, apenas um rascunho, aparentemente incompleto, sobreviveu ao assassinato do poeta (1936), e esse só seria publicado passados quarenta anos, escarrando na tumba do ditador Francisco Franco. Ainda assim, nessa fragilidade, O Público tornou-se um dos mais clamorosos gritos pela libertação individual –e colectiva– na dramaturgia universal. O Teatro da Cornucópia (Lisboa) foi uma das primeiras companhias no mundo a materializar O Público, em 1988, numa seminal encenação de Luís Miguel Cintra, que, com Luís Lima Barreto, fixou a única versão editada em Portugal, até à data.

  • Artes cénicas
  • Lisboa
  • qui, 10 de junho —
    dom, 13 de junho 2021

Foro

Centro Cultural Malaposta, R. de Angola, 2620-492 Olival Basto
219-320-940

Entradas

Comprar bilhetes (12€). De quinta a sábado às 19h30. Domingo às 16h30.

Mais informações

Centro Cultural Malaposta

Créditos

Organizado pelo coletivo Ninho de Víboras

Ferramentas